quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Deuses Esquecidos - D4!

Quase três mêses se passaram desde a primeira investida na conquista da face oeste da Serra do Ponto, em Brejo da Madre de Deus (veja o relato aqui), até que resolvemos voltar pra terminar os 40 metros restantes, parece simples né!

A parede vista da trilha

Saímos de Recife na sexta-feira à noite rumo à Brejo, chegando lá às 23h, separamos os equipos pra acordar no dia seguinte às 4h. A idéia para o primeiro dia era subir sem equipamento de conquista, apenas com os móveis e 3 cordas pra fixarmos, voltando pro abrigo em Brejo e, no outro dia jumarear e entrar na conquista dos últimos 40m de via, aparentemente com agarras.

Sábado (1° dia)
Começamos a caminhada subindo o cânion ou gargante/grotão (como é conhecido lá) às 6h, abastecemos as duas garrafas de 1,5l no rio e começamos a escalar às 8h. O primeiro lance da via é um pequeno trecho vertical que foi conquistado em artificial, a idéia era fazer em livre dessa vez, mas acabou não dando certo, nada que um stickclip não resolvesse...passado esse lance a enfiada continua em IV grau até os 60m.
A segunda enfiada também não passa muito disso, só que tem um pequeno diedro em móvel e alguns trechos sujos, o que dá uma emoção maior que a primeira. Chegando no grande platô nos reunimos e comecei a guiar a terceira enfiada, começa em artificial de grampos e parafusos, depois vira móvel e tem um final em livre, sem dúvida a enfiada mais cansativa da via, acho que demorei umas 3h só nela, até chegar no platô onde fica a P4.

No platô após uma enfiada compriiida

Luciano pegou a ponta da corda e guiou a enfiada seguinte, um pequeno trecho em artificial móvel, que dá acesso ao terceito platô da via, local onde tinhamos parado nas últimas investidas. De lá ele fixou a corda e desceu limpando as peças. Já eram 3h da tarde e a missão estava cumprida!

Luciano no segundo artificial

Rapelamos fixando as cordas, começamos a descer (pelo mesmo caminho da subida) às 16h, chegando no carro às 17h30.
Jantamos, e fomos dormir pra acordar cedo novamente no dia seguinte.

Domingo (Descanso)
Acordamos às 4h, tomamos café e o Luciano constatou um problema de junta, seu pé apresentava problemas novamente, nos forçando a descansar nesse dia e continuar a empreitada na segunda-feira.

Segunda-Feira (2° dia)
Acordamos mais cedo ainda, dessa vez levaríamos menos peso, pois estava tudo lá na base e na parede (os 14 grampos e a marreta ficaram no último platô desde agosto), restando apenas a furadeira, batedor, mais 2 chapas e as brocas.

Pedra da Bicuda, vista da trilha

Começamos a caminhada às 5h, às 7h estávamos jumareando (na verdade estávamos ropemanando/tiblocando ou grigrizando...) o entre 9h e 10h estávamos no ponto final das cordas, nos preparando pra conquista.

"essa mata me mata"

Jumareando

Ao lado do grande diedro da terceira enfiada

Fim da terceira enfiada

Nessa enfiada já haviam dois grampos batidos pelo Luciano acima da parada, e nesse trecho haviam boas agarras, tipo uns regletões sarados, o que tinha nos deixado bem animados, mas quando comecei a conquista dessa vez, as agarras sumiram rapidinho, conquistei uma parte em artificial de agarras e de buraco, mas protegendo a via pra que seja escalada em livre, bati uns 7 grampos e desci. O Luciano conquistou mais um trecho e eu assumi a ponta novamente, os grampos iam acabando e tivemos que administrar pra dar pra chegar ao cume, e deu certinho, cheguei no cume com 1 grampo pra bater!

Eu na última enfiada

Esse último trecho acredito que seja uma enfiada bonita pra guiar em livre, algo entre VIIa, talvez VIIIa, são 40 metros verticais beeem técnicos, com agarras pequenas porém sólidas, bem protegida, o que não quer dizer que as quedas serão pequenas, e bem cansativa. Isso tudo é só fruto da minha imaginação, pois não escalamos ela ainda pra ver.

Último grampo batido, agora é só esperar...

Chegando no cume fixei a corda, o Luciano jumareou e aí começou o processo de descida pelo outro lado da montanha. Cerca de 2h de caminhada, chegando na igreja da cidade, chamada de Mãe Rainha. Já estávamos destruídos, sem água, o Luciano com o pé fod***, dividimos o peso nas mochilas 80-30% e pé na estrada!

Candidatos à repetição, poupem esse peso.

Nem tem foto do cume porquê chegamos atrasados e não queríamos pegar o crux da trilha de noite, onde é difícil se orientar, principalmente com 1 headlamp pra dupla...hehe
Sem dúvida uma bela segunda-feira de trabalho!!

Todos os graus são sugeridos, a via aguarda repetições e sugestões quanto à graduação, e a parede apresenta várias possibilidades ainda! Acreditamos ser o primeiro D4 de Pernambuco, e além disso ele se encontra em um local de acesso complicado, o que exige um certo comprometimento dos escaladores, mas não é nada de outro mundo.

Aqui vai o croqui, o traçado da via, da trilha e alguns betas:

Acesso: Parar o carro no estacionamento da Bicuda, seguir até a casa rosa, entrar nela e pegar a trilha à direita, passar os legedos e subir a garganta/cânion seguindo o rio. Há um tótem (pouco antes do último lagedo, onde escorre água) marcando a entrada pra via, já quase no fim do cânion, onde se vê a parede toda.Entrar à esquerda no tótem até chegar na parede, depois descer margeando-a por 50m. A base da via fica em um platô alto, o primeiro grampo está alto, na parte vertical. Aproximadamente 1h30min de aproximação.

Água: Coletar água no cânion.

Descida: Pode-se rapelar e descer pelo mesmo caminho da subida, só que é bastante chato, porém na falta de maiores infos é o caminho mais fácil de acertar. Chegando no cume (pela via ou terminando de fazer a trilha pelo cânion) é possível descer pelo Sítio Amaro - 1h - (pela direita) ou pela "Mãe Rainha" - 2h - (dando a volta na Serra do Estrago). O primeiro eu não tenho informações, o segundo é difícil de acertar se ninguém conhecer o caminho, não há marcos e não é uma trilha definida, explicar também não resolve muito.

Até mais, o mês de dezembro promete!

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