quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Pedra do Gavião e Morro do Olho D'água - Iaçu/BA

Em Itatim tem pedra pra escalar por toda uma vida, além de concentrar a maioria das vias do "Leste" da Bahia. Mas suas vizinhas Milagres e Iaçu possuem tantas outras pedras, que três vidas seriam pouco para todos os objetivos. Nesse post você vai ver alguns detalhes de duas escaladas em Iaçu.

PEDRA DO GAVIÃO

A Pedra do Gavião, visivel da BR-116 entre Milagres e Itatim, é facilmente acessada por uma estradinha de terra que passa em frente à sua face sul, bem vertical e com enormes buracos. Pedimos permissão pra escalar na fazenda próxima da base e seguimos de carro pelo pasto até chegar bem perto da parede. Não sabíamos exatamente onde começava a via, pois só tínhamos uma foto de alguém escalando, e sabíamos que a via era fixa, então começamos a contornar a pedra pela direita, subindo em dirção à face norte, onde finalmente encontramos a via, quando a trilha fica mais plana.



 Face Sul da Pedra do Gavião, a via está contornando a pedra pela direita, pouco após a última aresta visível na foto.


Paredão Carolina - 3º IV E3 D1 150m é a via em questão! Conquistada em 2003 por Chico Rio e amigos, é até hoje a única via de acesso ao cume. Escalei com o Marcel. A primeira enfiada chega a um platô de mato, e dele se faz uma longa horizontal pra direita, at´a P2, nessa horizontal pode ser complicado achar o grampo, o importante é não subir, seguir à direita até achar um grampo e em seguida a parada. Como não tínhamos croqui demoramos a achar esse lance. Depois a escalada fica mais óbvia e é fácil achar o caminho, às vezes reto, às vezes desviando de algum trecho mais íngrime. Assinamos o livro de cume e descemos, depois de fritar no sol.

Marel Gama chegando no primeiro grampo da segunda enfiada.

Marcel errando e subindo em vez de ir pra direita

Marcel e eu no cume!

Livro de cume da conquista

Fiz um croqui da via, não medi muito certinho os tamanhos das enfiadas, mas já serve de referência a estimativa. Escalamos com uma corda de 70m, que ficou ótima pros rapéis. Não rolou uma foto da parede, pois o acesso não dá uma boa visão da mesma.


MORRO DO OLHO D'ÁGUA


Esta montanha impressionante fica próxima ao distrito de Lajedo Alto, e possui duas vias conhecidas: Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, aberta pelo Elder, Gleidiane e Klener, que foi a via que escalei, e Bola de Fogo, que fica no tótem visivel nas fotos, em um cume completamente distinto, porém no mesmo maciço rochoso. O Olho D'água tem espaço pra mais umas centenas de vias, dada a imensidão do morro.

Cabeça do Índio e Morro do Olho D'água

O acesso às vias fica em uma fazenda particular, então é essencial pedir permissão aos proprietários, até porque a porteira costuma ficar fechada com cadeado. Bom de ir com um dos conustadores é que o aceso fica sempre mais fácil, Lá fomos nós, Klener e eu rumo aos mais de 400m de parede.

A primeira enfiada é de granito polido e escorregadio, em uma sutil canaleta. Uma árvore caída na base dificultou a visualização das chapas, mas elas estão lá! Duas enfiadas mais com dificuldade de até VI, com alguns lances em móvel e da P3 pa cima a via perde inclinação e o caminho fica mais fácil.

 Klener nas primeiras enfiadas

Animados!

Fizemos cume, assinamos o livro e iniciamos os tantos rapéis com duas cordas que nos levaram de volta à base.

Cume!

Também dei uma detalhada melhor no croqui, pra ver se instigo mais repetições, vale a pena, a via é linda e a montanha GIGANTE!



domingo, 6 de janeiro de 2019

Trip Peru #2 - Via Del 85 - La Esfinge

Oito dias após desembarcarmos no Peru, em junho de 2018, tiramos nosso primeiro dia de descanso total, em um hostel em Huaraz. A semana anterior foi de escalada/aclimatação nas belas vias esportivas de Hatun Machay (link pro relato), onde passamos frio e sentimos os efeitos da altitude no corpo pela primeira vez.

O parceiro desta empreitada foi o curitibano Otto, companheiro de cordada em outras roubadas semelhantes. Aproveitamos nosso dia de descanso para comer bem, coletar informações e planejar o dia seguinte. A ideia era tentar subir alguma montanha com 5mil metros de altitud
  
e, para aclimatar melhor e chegar com mais fôlego no nosso objetivo principal da trip: La Esfinge (5325m). Como o tempo era curto, seguimos a sugestão de tentar subir o Rima Rima, uma montanha visível da cidade de Huaraz, com pouco mais de 5 mil metros de altitude, que seria factível em um dia. Segundo nosso informante, a caminhada seria de cerca de 5h ida e volta, com um trecho final de escalada fácil. Pegamos as dicas sobre o acesso, e fomos dormir, pra tentar subir o Rima Rima e voltar pro hostel no dia seguinte.

Acordamos cedo e pegamos um taxi, que rodou 20km e nos deixou no ponto da estrada por onde começava a caminhada, a cerca de 4000m. Andamos muito devagar, parando muito e nos sentindo muito cansados, cinco horas depois chegamos a 4900m, ainda faltava muito, e pelo cansaço e pela hora, resolvemos descer dali mesmo. Foram 2h de volta ao ponto de de onde começamos, mais 7km até encontrar uma van, que nos levou de volta à cidade. Não fizemos cume, nem ultrapassamos os 5 mil, que seria bom pra aclimatação, fiamos um pouco preocupados com nosso desempenho aquém do esperado, mas seguimos com nosso objetivo principal.

Rima Rima é a pirâmide preta no primeiro plano


Nossa altitude máxima no Rima Rima

O dia seguinte foi de descanso em Huaraz, fizemos compras e coletamos  informações sobre o transporte até a Esfinge. Dia 14 de junho de 2018 saímos do Hostel Big Mountain e tomamos um ônibus pra cidade de Caraz [7 soles/2h/60km], chegamos às 8h, andamos até o mercado e pegamos um taxi [85 soles/1h30] que nos levou à Laguna Paron, ponto inicial da caminhada. Paga-se uma taxa de entrada de 5 soles, e essa estrada que percorremos de taxi é impressionante, ela sobe por um vale cercado de paredes que facilmente chegam a 1000m de puro granito. A Laguna Parón também impressiona por sua beleza. Começamos a caminhar rumo à Esfinge às 9h40, chegando ao local usado por muitos como acampamento base após 4h de caminhada, ficamos muito felizes, pois esse é o tempo médio estimado pelo Guia de Escalada de Huaraz, afinal não estávamos tão mal assim! Coletamos água, armamos uma barraca que usaríamos caso o bivak (cova protegida do vento a 15min da base da via) estivesse lotado, o que não foi necessário. Mais uma hora de caminhada e chegamos à tal cova, que estava vazia! Levamos os equipamentos pra base da via, e voltamos pra jantar e dormir. Pra essa caminhada fui com o meu Five Ten Guide, tênis que levei na mochila durante a escalada, pois a descida é por um caminho diferente, ele foi uma boa pedida, pois combina conforto/precisão com leveza.


Início da Caminhada

Primeira vista da Esfinge!!

Dia 15 acordamos 4h30 da manhã, após uma noite até que bem agradável, a 4700m de altitude, tomamos um café e antes das 5h30 estávamos na base da via, começamos a escalar pouco antes das 6h, ainda no escuro, com a luz das headlamps. A rota escolhida foi a Via Del 85, a rota "Normal" da montanha, são cerca de 750m de puro granito, graduada em 6a, com crux's de 6c (graduação francesa), que podem ser feitos em A1. Seu cume está a 5.325m em relação ao nível do mar.

Bivaque

 Escalamos com uma corda simples de 80m, e levamos um cordelete de 60m na mochila, apenas pro rapel. Levamos água, tênis, anorak e começamos a escalar vestidos com a pluma e luvas. Optamos por não levar nada para bivak, o que nos deixaria mais rápidos, mas se algo desse errado, estaríamos numa fria. Escalei com a Moccasym, um número maior que meu é, com meias grossas, precisão necessária e conforto pra ficar 1 dia inteiro calçado.

Otto na segunda enfiada

Emendei as duas primeiras enfiadas, relativamente fáceis, não cabem muitas peças nesse trecho, mas existem alguns pitons, inclusive ao longo te toda a primeira metade da via. Otto pegou as próximas duas enfiadas, também em uma tacada só, depois eu emendei até a P6, santa corda de 80m! Outro detalhe técnico que nos permitiu fazer isso foi termos levado 2 jogos de camalots, em vez de 1, como recomendado em muitos relatos de quem escala a via em um dia. Levamos também o #4, que não me arrependo, e claro, os micros.



A sétima enfiada foi do Otto, e pareceu a mais dura e constante da via, e a partir dela, seguimos de uma em uma enfiada, até o Platô das Flores. Este platô é usado como local de bivak pra quem opta por fazer a via em dois dias, ele divide duas partes da via, a primeira, de maior dificuldade, porém bem óbvia quanto à navegação, e a segunda parte, mais fácil, porém com diversas possibilidades de caminhos a seguir. Chegamos ao Platô às 11h15, um bom horário pra um dia de escalada, mas já nos sentíamos super cansados. Lanchamos, bebemos um pouco de água e guiei o lindo diedro depois do platô, daí pra cima fomos nos arrastando, e nos mantendo relativamente bem na navegação. Sò nos perdemos lá pela 15ª enfiada, mas "descobrimos" nosso caminho e, às 17h e 45 minutos, chegamos ao cume! Tiramos algumas fotos que ficaram bem ruins, mas são o registro de um objetivo alcançado com muito planejamento, estudo e acima de tudo, vontade! Nosso primeiro 5 mil, La Esfinge, Cordilleira Blanca, Peru.






Caminhamos pela crista da montanha, por cima dos blocos, rumo à via de rapel, que fica na parte mais baixa da parede, e está sinalizada com totens apenas no ponto de rapel mesmo, então pode caminhar com fé, que ela está lá! São três rapéis ao todo: 60m/30m/60m, praticamente em linha reta, e todos os pontos de ancoragem estão em bom estado. Ao final do terceiro rapel, descer caminhando meio em diagonal pra esquerda, até acessar a moraina, que leva ao ponto de bivak. Terminamos o rapel às 19h e descemos cambaleando pela moraina até a cova, onde chegamos às 20h20, jantamos e dormimos, pra no dia seguinte voltar pra civilização e depois pra casa.

 Cume da Esfinge (5300m)

Aclimatação sem dúvida deixou a desejar, 10 dias foi insuficiente, não chegamos nem perto de escalar com nossa capacidade normal, mas foi como deu pra fazer, respeito aos montanhistas de grandes altitudes, deu pra sentir na pele e nos pulmões o quanto é difícil! Que esse relato sirva de inspiração pra quem quer escalar a Esfinge, ou qualquer montanha por aí! Caso alguém precise de alguma informação específica, não deixe de entrar em contato: cauivc@gmail.com

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