quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Espírito Livre - Morro do Enxadão, Itatim/BA

Depois de muito tempo combinando, finalmente o Zé Roberto conseguiu uma folga pra vir pra Itatim novamente! Na compania do Matheus Martins, também de Brasília, passaram 4 dias de dos quais pude acompanhá-los em 3 dias na abertura de mais uma via no Morro do Enxadão!

Traçado da via Espírito Livre

Como eles chegaram na sexta, enquanto eu trabalhava eles escalaram a Jardineiro, clássica da parede, deixando de lado a minha recomendação de repouso pré-conquista....kkkk

Saí de Feira de Santana na sexta à noite com o Marcel, que também nos acompanhou na empreitada pra dormir já em Itatim e poder começar cedo no sábado.

Escolhemos uma linha bem no meio da parede, aparentemente onde está a verticalidade mais constante de todo o Morro do Enxadão. Inclusive, o maior motivo de não ter vias nessa área, é a verticalidade do início da parede, sem mostrar muitas boas agarras.

Eu vinha analisando a linha há algum tempo e mostrei o início pelos blocos à esquerda das esportivas no setor da Piratas do Caribe, e como quem dá a ideia faz, peguei a ponta e comecei a empreitada.
Dominei o bloco, coloquei uma peça e em seguida uma chapa, passei e artificial um tetinho que viria a ser o crux de toda a via e segui alternando furos de clif e chapas por uma linha que eu imaginava ser possíel escalar em livre, mas sabendo que seria duro! Não lembro quanto, mas demorei bastante pra conquistar uns vinte metros. Bati a parada e passei a bola pro Matheus.

Conquistando a primeira enfida 

Matheus limpando a primeira enfiada, entrando no crux de toda a via

Matheus subiu co Zé e abriu a aérea segunda enfiada, por um negativo de agarras alucinante, que depois fica positivo e fácil (e esticado) até chegar na parada, o dia já estava acabando e subi com o Marcel pra conquistar a terceira enfiada.

Matheus conquistando a segunda enfiada 

Nós jumareando as cordas fixas no dia seguinte

Sabíamos que teríamos que acelerar pra terminar a via em apenas mais dois dias, então seguimos na estratégia de revezar as duplas. A sombra bate na parede só após o meio dia, o que faz com que nossos amigos do DF acordem sem a menor pressa, mesmo com o prazo curto, a tranquilidade reina! 
E lá foram eles, sei lá que hora subirem pelas cordas fixas e abrirem mais duas enfiadas bem bonitas, sendo uma com apenas 2 chapas e alguas possibilidades de móvel, e outra toda fixa. P5 estabelecida, troca de turno.

 Matheus e Zé Roberto

Zé conquistando a quarta enfiada

Eu que estava dando uma faxina na primeira enfiada subi com Marcel e tocamos mais uma enfiada, ele na ponta chegou na P6. Pego a furadeira e saio sedento pra aproveitar ao máximo o resto do dia, coloco uma peça e venço o primeiro lance, chegando ao grande buraco no terço final da parede, mais duas peças na fenda que tem dentro do buraco e estudo por onde sair, preparo pra bater ua chapa no próximo lance e a broca quebra! Pego a broca reserva e ela não encaixa de jeito nenhum na furadeira! Não levamos batedor e assim terminu nosso segundo dia de conquista: equalizei umas peças na fenda do buraco, fixei a corda e desci.

Marcel conquistando a sexta enfiada

Marcel voltou pra Feira no domingo e eu só tinha a segunda-feira livre, o Zé acordou mal com dor de dente e eu segui com o Matheus pro tudo ou nada. Jumareamos as cordas fixas e eu finalizei a sétima enfiada, intercalando chapas e peças. Matheus tocou a oitava, que ficou uma das mais duras da parte de cima da via, seguindo por uma fenda aberta em diagonal e terminando por uma sequencia de abaolados estranha, ainda bem vertical! Essa levou um bom tempo devido à dificuldade e dúvida de por onde seguir.

Sétima enfiada

Matheus na oitava enfiada

A parede não dava trégua e a luz estava acabando, toquei as duas últimas enfiadas que não aliviam totalmente, mas já alternam alguns trechos positivos com barrigas verticais. Cheguei ao cume, bati a décima parada e de lá mesmo já desci. Limpamos todas as cordas fixas e chegamos ao chão depois das 19h. Concluímos a via mas ficou aquele gostinho de querer prová-la, e faltou o cume com a galera toda, mas estamos aguardando a nova oportunidade!

P10

Ficou uma via desafiadora, vertical em pelo menos 90% de sua extensão, alguns lances de sétimo e uma primeira enfiada que não encadenamos, mas estimamos um VIIIa. A proteção é regular, todos os crux são protegidos, mas não é uma via totalmente esportiva, exigindo bom domínio de equipo móvel e a resistência em dia.

O nome é uma homenagem ao Gigante, nosso amigo que se foi há alguns anos.


Clique na imagem para ampliá-la

Era início de março e ainda não tinhamos noção do período obscuro que viveríamos nos meses seguintes por conta do COVID-19, sendo essa nossa última escalada antes da quarentena. Lá está a via, espero que em breve possa receber novos escaladores, além de nós, é claro, que estamos loucos pra repetir sem peso nas costas!

[ATUALIZAÇÃO 24/08/2020] No último final de semana fizemos a primeira repetição da via, eu e Marcel Gama, subimos revezando as guiadas e consegui fazer toda a escalada sem quedas! Alterei a imagem do croqui com algumas pequenas alterações na sugestão de graduação e proteção. 

domingo, 16 de agosto de 2020

Escaladas no Sul da Itália - Frascineto, Palinuro e Gaeta

Após dois dias de descanso (ver relato anterior) seguimos viagem de Reggio Calábria com destino a Roma, de onde partiria nosso vôo 5 dias depois, nos dando 4 dias livres de escalada. Traçamos a rota passando por três picos que nos interessaram nas buscas na internet: Gaeta, Palinuro e Frascineto.
Depois de algumas horas de estrada paramos no primeiro destino de escalada longe da costa: Frascineto!
Uma pequena cidade, mais moderna do que as que estivemos até agora, encostada em uma bonita montanha de calcário, com vários setores, dos quais podemos ir em 3 ou 4 deles ao longo do dia.



Escalamos algumas vias na direita do primeiro setor, estas ainda não estavam no guia, mas como nome e graduação pintados na base ficou fácil de se localizar. Depois fizemos algumas mais fáceis e seguimos procurando entender qual setor era qual, até que sem querer paramos na base da Never Mind The Bollocks, 7a+. Totalmente longe de onde achávamos que estávamos, não tive o que fazer se não provar a via! Muito boa, escalada técnica, exigente na leitura e na resistência, saiu à vista e fez valer demais a parada em Francineto! 

Never Mind The Bollocks 7a+
 

Seguimos mais um pouco pela estrada e  dormimos perto de Palinuro, um dos picos que mais me chamaram a atenção nas pesquisas. Uma falésia na beira do mar, literalmente! 

Entramos por uma fazenda de oliveiras, caminhamos por alguns minutos até a praia meio abandonada, mais alguns metros pela areia e chegamos nos setores. Como a falésia é na beira do mar, a maré diz se você vai escalar ou não. Quando chegamos a maré estava alta, com algumas bases já molhadas, demos uma volta até o final do setor pra fazer um reconhecimento geral, ficamos babando com as paredes e cavernas!


A maré foi baixando ao longo da tarde e mais algumas bases foram ficando limpas, nesse dia escalei três vias de 6b+ até 7a+, todas com cerca de 30m porém com agarras bem variadas! Uma via de agarrões e chorreiras, outra de regletes e a última de batentes, uma mais bombante que a outra!!




No dia seguinte chegamos na praia e a maré estava subindo, de modo que sobrou apenas um setor mais recuado possível de escalar, e a via, uma das únicas escaláveis, tinha me deixado encucado no dia anterior. Muito negativa, com chorreiras e algumas linhas finas d'água se viam brilhando de longe. Mas agora não tinha escolha, escalava ela ou ficava olhando pro mar. Entrei e fui desvendando os bonitos movimentos, cheios de drops e pinças, me movia rapidamente pois não adiantava parar pra descansar, tamanha negatividade e continuidade da via. Nenhuma agarra da via estava molhada, as linhas de água escorrida não atrapalharam em nada! A cadena não saiu de primeira, caí no final da sequencia crux, bombado! Descansei uma meia hora e entrei novamente, escalei "correndo" e funcionou, cadena! Eso Es Palinuro (7b Fr) !



O plano era passar o dia seguinte conhecendo os outros setores de lá, mas a maré alta nos desanimou, o que acabou nos fazendo conhecer mais um pico fantástico já mais perto de Roma, pouco depois de Nápoles. Seguimos na estrada até Gaeta, dormimos já não lembro mais onde e no dia seguinte fomos até a Spiaggia dell'Arenauta, onde tem 2 setores, a falésia e a grota. Começamos com uma caminhada pra ver o setor da falésia, muito bonito por sinal, porém com proteções meio assustadoras, muito oxidadas, com cara de abandono ainda. Achamos estranho e seguimos pra ver a grota, chegando lá tivemos um choque, praticamente um ginásio de escalada ao ar livre.
Uma caverna impressionante, cheia de vias, proteções novas e de boa qualidade, topos de argola, etc. Cerca de 50 vias de 6a até 9a (Fr). Tudo isso em uma caverna de calcário, cheio de agarras incríveis!



Fiquei um pouco arrependido de não ter ido antes pra lá, o setor deve ser bem movimentado, as vias mais fáceis são bem polidas, mas no dia que fomos, só tinha mais uma dupla de escaladores por lá. Era meu quarto dia de escalada seguido e o rendimento tava bem a desejar...kkkk fiz um volume de sextos e deixei uma dívida chamada Is Danzas, um 7b+ lindo demais, que dei uns 3 pegas mas não consegui a cadena.



Seguimos pra Roma com um gostinho de quero mais, mas sem abrir mão de uma margem de segurança pra não perder o vôo, finalizando uma trip com muito, mas muito mais escalada do que eu imaginava!
Sem dúvida um oportunidade única de conhecer um país que me surpreendeu! Mesmo não tendo ido aos famosos picos de escalada italianos, como Arco, Dolomitas, etc. valeu demais a pena! 

                  Eu e minhas companheiras de viagem: Taitê, Dani e Fernanda. Etna ao fundo.

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