O Morro do Enxadão, localizado em Itatim, Bahia ganhou mais uma via no último final de semana: Tudo Passa (6º VII A1+ E2 D4) 290m. A via segue pelo negativo amarelado, bem destacado, do lado direito da sua face principal. [ALTERAMOS O GRAU GERAL, QUE ESTAVA COMO 5º, PARA 6º,ACREDITAMOS QUE FIQUE MAIS CONDIZENTE ASSIM]
No primeiro dia do ano de 2018 fui sozinho até a base da pedra e vi perfeitamente que havia uma linha de fenda cortando o negativo ao meio. Como o primeiro 1/3 da parede era positivo, comecei a coquista na hora, em solitário. Nesse dia abri as três primeiras enfiadas, com proteção fixa apenas nas paradas (exceto por 2 chapas em uma barriga mais lisa na terceira enfiada), o resto em móvel, por pequenas fissuras isoladas ao long da via.
Vista da P1 paa a base, na primeira investida, ainda em solitário
Meses se passaram e o Zé Roberto, amigo de Brasília, comentou que estava vindo pra Bahia e chamou pra escalar, mostrei as fotos da conquista e ele pilhou na hora! Chegamos em Itatim na última sexta-feira, pra darmos as investidas finais.
Sábado escalamos as três enfiadas já conquistadas e continuei a 4ª, que começa em uma pequena chaminé, depois passa por uns buracos, em móvel, até chegar em um diedro cego, com agarras quebradiças, bati algumas chapas, depois mais umas peças e fixei a P4 num mini-platô.
Zé pegou a ponta, e seguiu por uma fenda fina no diedro, depois por uma linda e exigente fenda de meio corpo, peças grandes, mais duas chapas e a P5, logo abaixo da parte mais negativa da via, em um platô de um pé só.
Zé na chaminé de meio corpo da quinta enfiada
Coloquei a sapatilha e comecei a escalar a fenda, mas na segunda peça já vi que não ia rolar em livre...peguei os estribos e segui em artificial por mais uns 10m, ótima fenda, até que começou um zum zum zum.
Algumas abelhas saiam de dentro da fenda, continuei de mansinho, bem lentamente, mas elas não queriam me deixar passar, se aproximando cada vez mais. Já era um pouco tarde e resolvemos descer, pra voltar no dia seguinte com um baygon, e ver no que dava, afinal, a fenda seguia por mais uns 10m ainda. Fixei três peças boas e descemos, deixando todo o trecho até ali encordado.
No meio da sexta enfiada, Zé na P5.
Domingo subimos com mais uma corda pra fixar, e lá fui eu tentar conversar mais uma vez com minhas amiguinhas, mas elas estavam mais atiçadas, coloquei mais duas peças e tomei uma picada, elas ficaram mais nervosas e me mandaram descer. Infelizmente as abelhas não gostam de proteção móvel em seu lar, o que me fez ter que pegar a furadeira e fazer uma sequencia de artificial logo à dieita da fenda, por onde elas me deiaram em paz. Onde a fenda termina, dá pra ver as marcas do que foi uma antiga caixa de abelha. A parede fica mais negativa e bati alguns furos de cliff pra render mais, até chegar na parada. Então ficou uma enfiada menos charmosa do que poderia ter ficado, mas ainda assim, bm divertida!
Zé Jumareando a sexta enfiada
A P6 ficou bem aérea, é preciso fixar uma corda no trecho inicial da sexta enfiada, para rapelar pela via, ou rapelar direto pra P4, com duas cordas (ver betas no croqui). Demorei bastante nessa enfiada, e só deu tempo do Zé dar início à próxima, batendo 4 chapas num lance que provavelmente será na casa do VII, mas não conseguimos ainda visualizar a parte superior da parede, que tinhamos dúvida se iria apresentar ou não grandes dificuldades.
Início da sétima enfiada
Descemos com essa dúvida na cabeça. O dia seguinte era o último dia que tínhamo disponível, se a parede continuasse difícil provavelmente não terminaríamos a via, e teríamos que subir tudo de novo, sem cordas fixas, pra poder voltar a conquistar.
Segunda-feira começamos mais cedo e jumareamos até a P6, Zé pegou a ponta e continuou a conquista, ele fez a transição dos estribos pra escalada em livre, e gritou a notícia de que a parede nos daria uma trégua. Fixou a P7 na base de uma chaminé. Peguei a ponta e entrei na chaminé, um passeio, cheio de agarras! Coloquei uma chapa e algumas peças e cheguei perto de onde seria a parada, mas quando gritei pra perguntar quantos metros de corda faltavam, aquele zum zum zum...esperei, observei, esperei a chuva passar, esperei secar e vi que dava pra passar mais pela esquerda, fugindo de onde pareciam estar as abelhas. Deu certo, bati uma chapa onde ficou sendo a P8 e continuei com mais algumas peça até a P9, que já deu o gostinho do sucesso!
Nona enfiada, já no positivo
Puxei o Zé e ele se atracou com as bromélias, passou por um boulder e chegou no cume, finalmente! Tomamos um banho de chuva rápido, à propósito, todos os dias foram chuvosos, mas a negatividade da parede não nos deixou molhar nenhuma vez! Descemos, limpando as cordas fixas, os equipos que deixamos pela parede.
Cume!
Descendo...
O resultado foi uma via relativamente exigente, a mais exigente dessa parede, pois requer diversas técnicas como escalada em fenda, em agarras, em móvel, artificial, apicultura, etc. porém, a graduação é moderada para todos os estilos exigidos, enfim, uma boa opção pra quem quer passar um dia cheio na parede.
O acesso é simples, uma vez na base do Enxadão, caminhe para direita, margeando a pedra, até encontrar uma cerca, a via começa logo após a cerca.
A via fica poucas horas do dia no sol, então dá pra entrar bem cedo sem medo de insolação. As proteções fixa que usamos são predominantemente chapeletas PinGo (inox), inclusive em todas as paradas, e algumas chapeletas de aço carbono.
Valeu Zé pela parceria!! SBI Outdoor, Fiveten BR e Mbuzi Outdoor pelo apoio de sempre!
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