Oito dias após desembarcarmos no Peru, em junho de 2018, tiramos nosso primeiro dia de descanso total, em um hostel em Huaraz. A semana anterior foi de escalada/aclimatação nas belas vias esportivas de Hatun Machay (link pro relato), onde passamos frio e sentimos os efeitos da altitude no corpo pela primeira vez.
O parceiro desta empreitada foi o curitibano Otto, companheiro de cordada em outras roubadas semelhantes. Aproveitamos nosso dia de descanso para comer bem, coletar informações e planejar o dia seguinte. A ideia era tentar subir alguma montanha com 5mil metros de altitud
e, para aclimatar melhor e chegar com mais fôlego no nosso objetivo principal da trip: La Esfinge (5325m). Como o tempo era curto, seguimos a sugestão de tentar subir o Rima Rima, uma montanha visível da cidade de Huaraz, com pouco mais de 5 mil metros de altitude, que seria factível em um dia. Segundo nosso informante, a caminhada seria de cerca de 5h ida e volta, com um trecho final de escalada fácil. Pegamos as dicas sobre o acesso, e fomos dormir, pra tentar subir o Rima Rima e voltar pro hostel no dia seguinte.
e, para aclimatar melhor e chegar com mais fôlego no nosso objetivo principal da trip: La Esfinge (5325m). Como o tempo era curto, seguimos a sugestão de tentar subir o Rima Rima, uma montanha visível da cidade de Huaraz, com pouco mais de 5 mil metros de altitude, que seria factível em um dia. Segundo nosso informante, a caminhada seria de cerca de 5h ida e volta, com um trecho final de escalada fácil. Pegamos as dicas sobre o acesso, e fomos dormir, pra tentar subir o Rima Rima e voltar pro hostel no dia seguinte.
Acordamos cedo e pegamos um taxi, que rodou 20km e nos deixou no ponto da estrada por onde começava a caminhada, a cerca de 4000m. Andamos muito devagar, parando muito e nos sentindo muito cansados, cinco horas depois chegamos a 4900m, ainda faltava muito, e pelo cansaço e pela hora, resolvemos descer dali mesmo. Foram 2h de volta ao ponto de de onde começamos, mais 7km até encontrar uma van, que nos levou de volta à cidade. Não fizemos cume, nem ultrapassamos os 5 mil, que seria bom pra aclimatação, fiamos um pouco preocupados com nosso desempenho aquém do esperado, mas seguimos com nosso objetivo principal.
Rima Rima é a pirâmide preta no primeiro plano
Nossa altitude máxima no Rima Rima
O dia seguinte foi de descanso em Huaraz, fizemos compras e coletamos informações sobre o transporte até a Esfinge. Dia 14 de junho de 2018 saímos do Hostel Big Mountain e tomamos um ônibus pra cidade de Caraz [7 soles/2h/60km], chegamos às 8h, andamos até o mercado e pegamos um taxi [85 soles/1h30] que nos levou à Laguna Paron, ponto inicial da caminhada. Paga-se uma taxa de entrada de 5 soles, e essa estrada que percorremos de taxi é impressionante, ela sobe por um vale cercado de paredes que facilmente chegam a 1000m de puro granito. A Laguna Parón também impressiona por sua beleza. Começamos a caminhar rumo à Esfinge às 9h40, chegando ao local usado por muitos como acampamento base após 4h de caminhada, ficamos muito felizes, pois esse é o tempo médio estimado pelo Guia de Escalada de Huaraz, afinal não estávamos tão mal assim! Coletamos água, armamos uma barraca que usaríamos caso o bivak (cova protegida do vento a 15min da base da via) estivesse lotado, o que não foi necessário. Mais uma hora de caminhada e chegamos à tal cova, que estava vazia! Levamos os equipamentos pra base da via, e voltamos pra jantar e dormir. Pra essa caminhada fui com o meu Five Ten Guide, tênis que levei na mochila durante a escalada, pois a descida é por um caminho diferente, ele foi uma boa pedida, pois combina conforto/precisão com leveza.
Início da Caminhada
Primeira vista da Esfinge!!
Dia 15 acordamos 4h30 da manhã, após uma noite até que bem agradável, a 4700m de altitude, tomamos um café e antes das 5h30 estávamos na base da via, começamos a escalar pouco antes das 6h, ainda no escuro, com a luz das headlamps. A rota escolhida foi a Via Del 85, a rota "Normal" da montanha, são cerca de 750m de puro granito, graduada em 6a, com crux's de 6c (graduação francesa), que podem ser feitos em A1. Seu cume está a 5.325m em relação ao nível do mar.
Bivaque
Escalamos com uma corda simples de 80m, e levamos um cordelete de 60m na mochila, apenas pro rapel. Levamos água, tênis, anorak e começamos a escalar vestidos com a pluma e luvas. Optamos por não levar nada para bivak, o que nos deixaria mais rápidos, mas se algo desse errado, estaríamos numa fria. Escalei com a Moccasym, um número maior que meu é, com meias grossas, precisão necessária e conforto pra ficar 1 dia inteiro calçado.
Otto na segunda enfiada
Emendei as duas primeiras enfiadas, relativamente fáceis, não cabem muitas peças nesse trecho, mas existem alguns pitons, inclusive ao longo te toda a primeira metade da via. Otto pegou as próximas duas enfiadas, também em uma tacada só, depois eu emendei até a P6, santa corda de 80m! Outro detalhe técnico que nos permitiu fazer isso foi termos levado 2 jogos de camalots, em vez de 1, como recomendado em muitos relatos de quem escala a via em um dia. Levamos também o #4, que não me arrependo, e claro, os micros.
A sétima enfiada foi do Otto, e pareceu a mais dura e constante da via, e a partir dela, seguimos de uma em uma enfiada, até o Platô das Flores. Este platô é usado como local de bivak pra quem opta por fazer a via em dois dias, ele divide duas partes da via, a primeira, de maior dificuldade, porém bem óbvia quanto à navegação, e a segunda parte, mais fácil, porém com diversas possibilidades de caminhos a seguir. Chegamos ao Platô às 11h15, um bom horário pra um dia de escalada, mas já nos sentíamos super cansados. Lanchamos, bebemos um pouco de água e guiei o lindo diedro depois do platô, daí pra cima fomos nos arrastando, e nos mantendo relativamente bem na navegação. Sò nos perdemos lá pela 15ª enfiada, mas "descobrimos" nosso caminho e, às 17h e 45 minutos, chegamos ao cume! Tiramos algumas fotos que ficaram bem ruins, mas são o registro de um objetivo alcançado com muito planejamento, estudo e acima de tudo, vontade! Nosso primeiro 5 mil, La Esfinge, Cordilleira Blanca, Peru.
Caminhamos pela crista da montanha, por cima dos blocos, rumo à via de rapel, que fica na parte mais baixa da parede, e está sinalizada com totens apenas no ponto de rapel mesmo, então pode caminhar com fé, que ela está lá! São três rapéis ao todo: 60m/30m/60m, praticamente em linha reta, e todos os pontos de ancoragem estão em bom estado. Ao final do terceiro rapel, descer caminhando meio em diagonal pra esquerda, até acessar a moraina, que leva ao ponto de bivak. Terminamos o rapel às 19h e descemos cambaleando pela moraina até a cova, onde chegamos às 20h20, jantamos e dormimos, pra no dia seguinte voltar pra civilização e depois pra casa.
Cume da Esfinge (5300m)
Aclimatação sem dúvida deixou a desejar, 10 dias foi insuficiente, não chegamos nem perto de escalar com nossa capacidade normal, mas foi como deu pra fazer, respeito aos montanhistas de grandes altitudes, deu pra sentir na pele e nos pulmões o quanto é difícil! Que esse relato sirva de inspiração pra quem quer escalar a Esfinge, ou qualquer montanha por aí! Caso alguém precise de alguma informação específica, não deixe de entrar em contato: cauivc@gmail.com.
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