terça-feira, 18 de maio de 2021

Viaje de Cristal - Pedra Riscada - MG

Após 20h de viagem de ônibus cheguei em São José do Divino na sexta à noite, encontrei o Otto e dormimos algumas horas até o dia seguinte.

Sábado, dia 15/05/202 às 3h da manhã acordávamos pra um dia de escalada que me surpreendeu muito e vai ficar marcado na memória pra sempre!

Após 1h de estrada, um café no carro e uma caminhada no meio do capim chegamos na base da face norte da Pedra Riscada.

Ainda escuro, às 5h15 da manhã começamos a escalar as primeiras enfiadas da via Viaje de Cristal, comecei na ponta e seguimos em simultâneo até a P4, são enfiadas bem positivas onde se pode escalar bem rápido. Em seguida Otto tomou a frente e emendou a 5ª com a 6ª enfiada, e me puxou pra P6.

A sétima enfiada é um diedro perfeito, até a metade dele o trajeto é original da via Place Of Happiness, que havíamos escalado há 2 anos com o Júlio “Francês” na cordada. Dali pra cima a via se tornaria inédita pra mim, até quase o final, onde elas se juntam novamente. Otto já tinha feito a Viaje com Júlio já alguns anos também, o que deu uma certa confiança na nossa tentativa em andamento. E ele seguiu na frente, até a P7.

Peguei de volta a ponta da corda e emendei a oitava e a nona enfiada em uma só, parando na P9, às 8:15 da manhã na base do início do trecho mais difícil da via, composto por 3 enfiadas graduadas originalmente entre 7b e 8a (FR). É impressionante como a cada enfiada a partir da 4º a parede aumenta o ângulo de inclinação até ficar negativa, parece uma onde gigante de granito!

Meu objetivo era conhecer a via, escalar o máximo que pudesse em livre, mas sem nenhuma obrigação de encadenar nada, afinal tínhamos um limite de tempo, pois na mochila só tinha água, lanche, lanterna e anorak. Especialmente as enfiadas mais duras, onde o objetivo era chegar nas paradas, somente! Mas a décima ainda estava em um grau plausível, ainda que não me sentisse obrigado, essa eu gostaria de encadernar.

Com esse pensamento mais livre comecei a escalada técnica e quase vertical da décima enfiada, pequenos cristais em uma sequência de quase 50m, parecida que iam diminuindo a cada lance, até uma cruzada que felizmente acertei o beta, quando vi, costurei a parada da P10, sem queda! Comemorei e puxei o Otto.


A decima primeira enfiada começa em uma linda sequência de agarras boas na borda de uma canaleta levemente negativa, um dos lances mais bonitos de toda a via, em seguida perde inclinação e perde também as agarras, lances técnicos onde a confiança na sapatilha tem que estar em dia, e as visitas à Quixadá/CE e à Pedra da Boca/PB também contam muito, além de também um pouco de sorte, pois algum cristal selecionado pode quebrar, e aí já era. Eis que os planetas se alinharam e eu cheguei em um agarrão no terço final da enfiada, bastante surpreso. Pra cima vi alguns cristais relativamente maiores e após uma boa respirada no agarrão comecei a sequência final, nessa hora a perna tremia e a panturrilha doía, mas eu tentava não me precipitar, sempre escolhendo os melhores cristais e fazendo os lances o mais controlado possível, até que dominei outro agarrão e costurei a parada! Fixei a corda e chamei o Otto, ainda sem entender como eh não tinha caído. É um estilo bem específico, no qual eu me identifico, mas ainda assim acho que a graduação original está um pouco desajustada, pra efeito de comparação, eu nunca fiz um 7c (Fr) à vista. Talvez isso até inspire mais repetições nessa bela via, mas não vai pensando que é facinho não viu! Kkkkk


Otto pegou a ponta e tocou a próxima enfiada, a mais dura da via, que me pareceu bem bonita, com lances técnicos intercalados com ótimas agarras, essa não pude provar pois subi jumareando (jumareamos as enfiadas mais duras), e foi a única que nenhum de nós encadenou.


Eram 11:30 da manhã e estávamos na P12, logo acima das enfiadas mais difíceis, o dia estava perfeito, nublado, não muito frio, mas o cansaço bateu forte! Porém, com muita pedra pra cima ainda, Otto tocou o 6c da sequência, fui participando e achei bem duro.


A décima quarta e décima quinta enfiadas são fantásticas! A primeira só agarrão, vertical, já com a proteção mais espaçada, e a segunda um pouco mais apertenta, no mesmo estilo. Otto já tinha feito essas da última vez e me deu de presente as duas! Depois ele fez um bonito 6b com vários veios diagonais e eu finalizei a última enfiada técnica antes da parede perder inclinação. Agora não tinha mais como, era cume ou cume!


Otto tocou direto as duas últimas e eu fui atrás, essa parte nós dois conhecíamos, pois também é comum com a Place. São expostas, porém fáceis.


Chegamos na P19, a última da via, às 15h24, cansados e felizes! Uma foto, um lanche e começamos a descida que correu bem, cada puxada de corda uma reza diferente pra não prender, só prendeu uma vez, já nas rampas fáceis do início, sem maiores problemas chegamos no chão às 18h30, cansados e aliviados por mais um super dia de escalada bem sucedido!




Valeu Otto por me levar lá de novo e pela parceria de sempre! Agradeço demais aos argentinos por terem aberto essa pérola da escalada no Brasil, à SBI outdoor pelo apoio de sempre! Às nuvens que estiveram sempre presentes. kkkkkk


BETAS/DADOS TÉCNICOS/ESTRATÉGIA


Tempo de escalada: 10h10

Tempo aproximado de rapel: 2h40


Equipo:

-22 costuras (permite emendar algumas enfiadas)

-2 jogos de

Friend #.4 ao 3 e 01 jogo de nuts (só usa na p7)

-2 cordas de 70m (uma simples 9.5mm e uma 1/2 de 8mm que carregamos como retinida e usamos no rapel apenas)

-1 par de jumar

-1 5.10 moccasyn super confortável que deixei na P9 e uma anasazi que foi pro cume.


Água e comida

3l por pessoa, como o dia ficou nublado, fomos abandonando alguns litros ao longo da via, e sobrou, mas se tivesse calor teríamos passado sede.

2 sanduíches por pessoa + castanhas, banana passa, jujuba e carbogel.


Mochilas

2 mochilas até a base do diedro, que carregamos nas costas com o peso dividido. Dali pra cima só uma mochila pequena, que foi com o participante.

Não içamos nenhuma vez pois a pedra é muito abrasiva, puxaria no vazio só em uma enfiada, e estava leve suficiente pra escalar ou jumarear com ela nas costas.


Rapel

As paradas estão equipadas para rapel com mosquetões e/ou malha rápidas, algumas torcem bem as cordas, levar um pouco de cordim ou malhas se quiser melhorar isso, mas da pra descer de boa como está.

Alguns rapéis podem ser emendados com 2 cordas de 70m, outros podem ser feitos com apenas uma corda, suba prestando atenção nisso que dá pra ganhar uns minutinhos de crédito.


Usamos um banquinho dos que tínhamos deixado quando repetirmos a Place, como já estavam meio podres os recolhemos. Vale a pena levar pra repetir, as paradas são bem áreas.


ANTIPARQUES 6a+ 560m

No dia seguinte tínhamos planejado escalar mais alguma coisa mas não sabíamos o que seria, acordamos tranquilos e achamos o croqui da Antiparques, localizada na Pedra do M, perto da Riscada.


Foi uma ótima opção pra relaxar, o acesso é tranquilo pelo pasto, exceto no trecho que enfiamos o pé na lama pra atravessar uma área banhada. Uns 20/30min total.

O sol estava presente dessa vez. Otto começou guiando a primeira, toquei a segunda e ele seguiu da terceira emendando até a P6, já com a parede perdendo inclinação. Bebemos uma água, comemos um pão e toquei uma última barriga mais em pé antes da parede perder totalmente a inclinação, parei no cume, onde fica a P10. Levamos 1h50min pra subir, e mais 1h10 pra descer. A via é bem bonitinha, pena o final ser tão “tombado”. É uma boa opção de via mais tranquila na região, a textura é bem diferente da Riscada, não há cristais, tem mais cara de aderência, mas tem agarras também.




fonte: http://www.lanochedelloro.es/index.php/brasil/

À tarde fui conhecer de longe a face Oeste, onde fica a Moonwalker, que parece muito interessante! Realmente é impressionante o tamanho da Pedra Riscada! Dá pra passar o dia todo só estudando suas infinitas canaletas e pensando em qual será a próxima aventura.


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